Debaixo do Mausoléu
- Robin Rowland

- há 2 dias
- 7 min de leitura
– Então, esses é teu cafofo? – Perguntou o vampiro de chifres pontudos, levantando seus óculos coloridos, um pouco surpreso com a localidade estereotipicamente obscura do LaSombra.
O cemitério era um local amplo, mas o refúgio propriamente dito de Hazyel contava com uma pequena casinha, dentro do mausoléu, isolada completamente da luz do sol.
A decoração era mínima, alguns quadros desgastados de Santos e calendários vencidos, uma pilha de caixas de dvds ( alguém ainda assiste isso?) e um notebook velho fechado, com adesivos de séries pop do início dos anos 2000. Claro, que o que mais chamava a atenção eram as pilhas de caixas de papelada nas mesas, indícios de que alguém definitivamente morava lá, mas pouco esforço em mater as aparências mortais.
Troço não era exigente com luxo, ou espaço, já havia pernoitado em locais tão apertados quanto, mas quando foi convidado a se refugiar no território de Hazyel que se portava de maneira tão segura com seu terno polido, não esperava que o rapaz vivesse como um cadáver.
Mesmo ambos sendo, teoricamente, mortos.
– Desculpa a bagunça. – Fala Hazyel de maneira despojada.
Porém, uma caneca voa em direção a Hazyel, que consegue pega-la pouco antes de acerta-lhe a cabeça.
– Que merda, essa é minha única caneca! – o rapaz coloca a caneca em um pequeno espaço no meio da bagunça da mesa. – Ah, é, esse local é assombrado também. O fantasma que morava aqui antes, não gostou muito quando me mudei.
Troço olhou em volta, depois para seu anfitrião.
Hazyel deu um sorriso amarelo.
Troço não resistiu e caiu em gargalhada:
– Caralho, tu é muito diferente do que eu esperava!
– O que quer dizer com isso? Não é como se vocês estivessem esbanjando também!
– Ei, ei, relaxou. Não precisa entrar em compulsão. – Troço estendeu a perna e puxou uma cadeira para que pudesse se sentar e ficar confortável naquela sala subterrânea bagunçada. – É que vocês falam tudo de um jeito pomposo, saca?
– Nós, da Kamarilla?
– Isso aí. Vocês falam como se fossem tão… superiores. E assim, eu já tive meus conflitos com outros Vampiros, lambedores ou Camarillos, mas acho que eu tinha uma expectativa diferente. Como que eu posso dizer isso, a visão era que tu fosse mais monarquia? Ou mais pomposo?
– Esperava que eu morasse num castelo?
– Esperava que teu refúgio fosse mais um cenário de filme e não um escritório bagunçado.
Hazyel ficou constrangido. Não costumava receber visitas, tinha uma imagem de investigador a manter e muitas vezes seus hobbys eram o trabalho. Havia convidado tão rápido o rapaz para seu refúgio e se oferecido para protegê-lo, que não pensou sobre sua imagem no cenário.
Troço agora estava sob seus cuidados, e o que isso significa?
– Você precisa de alguma coisa?
O Tzimisce tinha o queixo pontudo, o rosto angulado, seus olhos refletiam a parca luz da residência como a lente de seus óculos, igualmente policromáticos. Ele passava as garras entre os papéis sob a mesa, inquieto, entediado. A aparência enigmática causada pelo dom da Vicissitude deixava o LaSombra inseguro sob suas condições atuais de recursos.
Ser anfitrião fazia parte de seu dever com Troço agora, ainda mais se quisesse descobrir os segredos das Disciplinas do clã dos dragões. O garoto, embora tivesse uma postura relaxada, era caçado por influentes poderosos do lado da Anarquia, havia muito que Hazyel ainda não sabia e muito que ele queria entender.
– O que quer dizer?
– Precisa se alimentar?
– Olha, eu não sou uma criança da noite, se essa é sua pergunta. Tô nessa não-vida a um tempo. – Troço deixou os óculos e olhou de cima a baixo seu anfitrião. – Você quer muito fazer um laço de sangue, não é?
Hazyel ficou um pouco tenso, havia colocado a condição de ajudar Troço em um laço de sangue, mas aquilo nem tinha passado por sua cabeça quando perguntou sobre alimentação. Na verdade, parece que desde que fechou a porta do mausoléu, nada passava por sua cabeça, se não seu hóspede.
– Não! Não é o que quis dizer, bem, na verdade eu só queria saber como estava sua fome, por que, você é minha responsabilidade e seu conforto e… necessidades…
Troço aproximou-se de seu anfitrião, que por reflexo deu um passo para trás, encurralando-se contra a parede.
– Não parece ter nada aqui no qual eu possa caçar, e eu gosto do meu sangue fresco. – Troço aproximou o rosto maliciosamente de Hazyel, detectando o constrangimento adorável do rapaz. – Ah, não ser que você esteja me oferecendo beber diretamente dessas suas adoráveis veias.
As costas dos dedos gelados de Troço passaram pelo pescoço de Hazyel, fazendo seu corpo estremecer. Fazia um bom tempo que não era tocado de forma tão íntima. Não tinha muitos amigos ou confidentes desde a perda de sua esposa e seu abraço.
Havia esquecido como era.
As longas mãos do Tzimisce acariciaram o pescoço de Hazyel, que obedeceu o movimento, virando o pescoço. Ansiando pelo toque.
– Se você ficar assim, amassado na parede, vou achar que realmente quer que eu te beije. – sussurrou.
– O QUE?! – Hazyel virou o rosto, se deparando diretamente com o olhar se Troço que aparenta a apenas alguns milímetros de distância.
– Ué, não é assim que vocês falam quando vão beber sangue? – Riu Troço.
Hazyel desviou o olhar e tentou sair de sua posição, mas o braço de Troço não o deixou ir a lugar nenhum. É estranho detectar o constrangimento quando o rosto não esquenta e o coração não palpita.
Mas não conseguia encarar o Tzimisce nos olhos.
– Olha, eu não dependo de consenso para morder, mas não quero faltar respeito com meu anfitrião. Ainda mais, depois de você me defender na frente dos outros, tão passionalmente. – Os dedos começaram a deslizar pela gola entreaberta da camisa social de Hazyel – mas se ficar parado assim, com as veias expostas, vou assumir que é um convite, e seria muita falta de educação, negar algo tão saboroso.
– Espera! – Hazyel interrompeu, levantando as mãos.
Troço recuou um bocado.
Constrangido pela atmosfera daquela interação, Hazyel levou as mãos nervosas até a gola da camisa e desabotoou um pouco. Também tirou o blazer.
– Esse é meu único conjunto formal… seria muito ruim se ficasse sujo de sangue. Sabe, vampiros não são conhecidos por uma alimentação muito limpa.
– Posso morder com delicadeza, como se fosse sua primeira vez~
– Não fale desse jeito! – Hazyel encarou um Troço sorridente. – Eu só estou deixando você beber meu sangue para que tenhamos um laço. Seria bom para você também, faz parte das regras.
– Aquele é seu quarto?
Troço foi em direção a única porta dentro do esconderijo, deixando o LaSombra para trás. Afora a sala com os documentos, Hazyel tinha um quarto para seu descanso particular. Um ambiente com uma poltrona de leitura ao lado de uma estante, no qual faltava uma boa parcela de livros para estar cheia, mas com vários box de DVDs de séries investigativas. Também era onde tinha um pequeno armário e sua cama.
Hazyel foi atrás do Tzimisce, que estava começando a bisbilhotar suas coisas.
– Sim, esse é meu quarto. Esse é meu refúgio afinal, o que esperava?
Troço apontou para a cama.
– Uma única cama?
Hazyel apenas entrava em torpor no local, nunca pensaram muito em decoração ou conforto, esse tipo de coisa fazia com que lembrava de sua ex-esposa de maneira melancólica. O luto era algo que não desaparecia na não-vida, mesmo em um coração que já não batia mais.
– Tire a camisa!
O comando fez com que Hazyel voltasse a atenção para seu visitante. Mas fez uma careta ao invés de acatar o comando.
– Se não quiser sujar sua camisa, é melhor tirar a camisa, tá com vergonha de que? – Troço sorriu malicioso – Não está pensando besteira, né?
Hazyel bufou e tirou a camisa, esses joguinhos de duplo sentido estavam começando a irritar.
– Vamos acabar logo com isso, me morda de uma vez.
Hazyel virou o rosto, mas Troço sentiu-se desafiado. Segurou no braço do rapaz e puxou-o em sua direção, derrubando-o na cama. Depois, o Tzimisce sentou bem em cima do colo do rapaz sem camisa e segurou seu queixo, virando seu rosto e expondo seu pescoço.
– Eu não gosto de fazer as coisas rápido. – falou com a voz aveludada bem próximo do rosto de Hazyel, que novamente se via tomado por um constrangimento íntimo.
O Tzimisce lambeu o pescoço e Hazyel sentiu um calafrio. Depois, para estender a provocação, encostou os lábios sob a veia que pretendia morder e assim que o LaSombra abriu a boca para protestar contra aquelas preliminares, sua pele foi penetrada pelas finas presas.
Uma mistura de sensações tomou o corpo de Hazyel, a mordida dos Membros é sempre surpreendentemente deliciosa, e ser abocanhado de repente fez com que deixasse escapar um gemido.
O calor da bebida do vitae fez com que o corpo de Troço estremescesse sob o corpo de Hazyel. Por isso alguns chamavam a alimentação de beijo, não se lembrava como aquilo podia ser tão intenso entre vampiros.
Os lábios gelados de Troço em seu pescoço deixaram escorrer um fino rastro de sangue até às clavículas do semi-desnudo anfitrião.
– Não queremos que fique nenhuma bagunça, não é? – disse antes de limpar as marcas de suas presas e lentamente passando a língua por todo pescoço de Hazyel, fazendo-o enroscar os dedos nas cobertas.
O peso de um corpo sobre o outro, estava deixando o LaSombra hesitante. Aquela aproximação era… inapropriada?
Troço então puxou seu casaco e jogou no chão, revelando uma regata preta, que logo tirou também ficando com o peito desnudo e uma corrente dourada em seu pescoço. O Tzimisce tinha algumas tatuagens pelo braço, e duas no peito, uma de um coração anatômico negro e outra em padrões tribais que se conectavam ao braço, que lembraram brevemente os braços de Ahriman.
– Tenho o hábito de beber mais do que deveria, então acho que seria justo que você pegasse de volta uma parcela. – Troço aproximou o rosto de Hazyel de seu pescoço também.
O LaSombra hesitou, aquilo tudo estava deixando-o tonto. Mas antes de formar um argumento, sentiu as presas adentrarem sua carne novamente, e revirou a cabeça, sentindo sua vitae sendo consumida e uma deliciosa luxúria tomando conta de seu corpo. Beber sempre o fazia sentir-se vivo, não imaginava o quanto ser bebido podia fazer com que se sentisse… tão bem.
– Me morde, Hazyel. Me beije, Hazyel.
Hazyel via a pulsação artificial nas veias de Troço e suas presas, famintas, logo começaram a escapar de sua boca. Não deveria aceitar essa proposta, ele é quem deveria estar no controle. Era sobre um laço, não sobre recreação!
– Confie em mim… por favor – ronronou o Tzimisce no ouvido do LaSombra.
E foi alguma coisa naquela voz que fez com que Hazyel tomasse a consciente decisão de devolver a mordida.
Era um homem decidido em suas escolhas.
Confiava em Troço.
E deliciou-se em sua vitae amaldiçoada.




Malditos kkkkkkkk