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Diário na Praia


As primeiras entradas do diário estão todas destruídas pelo mar e pelo tempo. Algumas poucas palavras podem ser lidas com bastante esforço como “Bamberg”, “Lasombra”, “Conde Balthazar I, o Príncipe” “Feudos da Cruz Negra” “Revolta Anarquista”, “Arcebispo Balthazar I” “Ritos de Criação”, “Abraço” “ Bando Nômade Soturna Irmandade”, “Bispo Domenic” e “Caçada de Sangue”. A primeira entrada legível é a seguinte:


07 de Março de 1827 - Amanhã o navio atracará no porto de São Sebastião da Guanabara. Venho fugido da Europa para esta “terra de ninguém”. Independente do que a Família Real Portuguesa diz ou faz neste lugar. Despistei meus perseguidores em Paris e peguei este navio em Lisboa. Meu bando ficou para trás, após a morte de nosso Sacerdote. Vou ficar um bom tempo escondido, pois, assim como eu, meus perseguidores tem todo tempo do mundo. Minha única esperança é de que eles não pensem que eu tenha vindo para cá.


16 de Setembro de 1827 - Dirijo-me para o interior desta terra, em direção a Minas Gerais. O Rio de Janeiro, por mais atraente que seja estar na capital, se mostrou populoso demais para me manter oculto. Vou usar o comércio de ouro e diamantes para ter recursos e privilégios que hoje me fazem falta. Os habitantes desse lugar são simplórios e indiferentes, eles só pensam em si, sem pensar no amanhã. Vou usá-los e descartá-los como eles merecem. Por mais que eu veja sinais da presença de outros habitantes da noite pelo caminho, ainda não encontrei outros Cainitas, o que é um bom sinal ou pode ser minha inefável Morte-Final.


12 de Novembro de 1828 - Já estabelecido e com servos leais e influentes no Arraial do Tijuco, sinto que pela primeira vez em décadas eu posso parar de olhar por cima de meus ombros. Minha influência segue firme e constante neste pequeno lugar. Esta terra tem recursos abundantes e que me serão muito úteis. Me sinto bem, apesar de tudo, por não estar mais engajado nas constantes lutas da Espada de Caim contra os servos dos Antediluvianos. Não me parece até agora que existam Cainitas na Vila do Príncipe, de quem esse local simplório está juridicamente subordinado. E mesmo que existam Carniçais, permaneço nas sombras, invisível à qualquer percepção. Em breve farei manobras para assegurar minha dominância sobre essa terra.


26 de Agosto de 1829 - Algo não está certo, meus empreendimentos se estagnaram e não parecem que vão se mover tão cedo. Meus contatos estão calados e meus servos vêm pouco a pouco sumindo. Sinto que sou observado a cada momento e isso me incomoda enormemente. Subestimei os lacaios dos traidores de Caim. Temo que me encontraram e que já estão em movimento para me alcançar. Devo ser mais rápido e mais astuto, minha sobrevivência depende disso.

 

5 de Fevereiro de 1959 - Me desenterraram há alguns meses por engano na tentativa de reabrir a mina de diamantes bem fundo na montanha. Um bando nômade de Sabbat Verdadeiros como eu, me encontrou quando fazia uma vistoria em uma das antigas minas do Bispo Sebastião de meu clã, nesse lugar que agora se chama Diamantina. Fui levado às pressas a sua presença, ele estando no Rio de Janeiro. Sebastião é uma das mais poderosas crias do Arcebispo Gratiano, aquele que tomou seu destino pelas mãos. Ele supervisiona seus negócios e seu arcebispado carioca, bem como seu acordo de não agressão com a Camarilla e Autarcas dessa cidade “maravilhosa”. Relatei a ele que em minha fuga fui encurralado em uma caverna e que apos um combate desgastante a caverna cedeu e fiquei enterrado lá desde então. Meus perseguidores a muito devem ter se esquecido de mim. Isso me é muito conveniente pois agora trabalho para pagar uma dívida que não pode ser paga em uma só vida. Espero manter o meu anonimato e aprender mais sobre esse novo mundo que me é tão diferente e tão fascinante.


9 de Novembro de 1965 - Após algum tempo integrando esse novo bando, me tornei rapidamente seu Ductus, após derrotar o antigo em uma Monomancia. O antigo sacerdote do bando, um Tremere Antitribu, foi destruído há muito tempo atrás em uma Caçada de Sangue. Eles agora me tem como seu líder, e deixo toda a parte sacerdotal para o meu Bispo, apontando o que os outros devem fazer enquanto começo a reerguer algumas influências nesta cidade. A Cidade Livre é um paraíso criado por ele e seu senhor para isso e já começo a sondar, agora com toda a calma e paciência, por onde posso alastrar meus tentáculos sem chamar atenção nem pisar no domínio de ninguém. Os mais velhos daqui parecem ter formado uma espécie de aliança e a cidade é neutra às guerras da Seita e contra a Camarilla, o que vem bem a calhar.


16 de Março de 1974 - Realmente não poderia ter descoberto um lugar melhor. Essa última década me facilitou de maneiras que só um controle militar poderia fazer. Hoje fui ordenado Templário do Bispo Sebastião e, apesar de preferir o anonimato, confesso que a posição me facilita entre os meus, a Seita e os Amigos da Noite, que já começam a me sondar. 


21 de Dezembro de 1981 - Assim como o Bispo Sebastião foi ordenado Priscus da América Latina eu agora passo a ser seu Paladino. Eu sei demais sobre todas suas influências, sei demais sobre suas alianças escusas com os Toreador e a Camarilla, com os seguidores de Montano, com a loucura de nosso Arcebispo Gratiano e ele sabe disso. Minha dívida eterna é minha maldição e pior, eu sei que ele sabe onde estão meus antigos perseguidores. Uma traição é impensável. E sei que meu Vínculo com ele e os Sabbat Moderados dessa maldita cidade são muito poderosos. E, ao mesmo tempo, assim como seu senhor no passado, a traição será minha única saída. Espero ser forte quando a hora chegar.


08 de maio de 1998 - Todo meu bando partiu para os Estados Unidos, pelo chamado da Priscus Sacha Vykos. E outros Sabbat partiram antes, nas Cruzadas e guerras em outros territórios por toda América do Sul. Eu permaneço aqui, servindo meu Priscus. Ele me passa algumas últimas ordens e finalmente entra em torpor. Eu sei onde ele está. Seria tão fácil... Mas eu estou preso. Preso ao meu Vinculum. Preso à minha palavra. Preso à minha falsa liberdade. Ele sabe que eu sei que ele pode me destruir com um sinal aos meus antigos perseguidores. Nem sei se eles ainda me querem, mas não posso arriscar. Vou ficar. Vou ficar e vigiar os que não partiram...


14 de julho de 2007 - Prosperidade. O Rio está começando a crescer. A ser mais cosmopolita. E com isso cresce tudo que eu movo, e pelos Abades de Sebastião... Eu escrevi seu nome sem chamar pelo seu título pela primeira vez. O Vinculum existe. Mas está enfraquecendo... Não haverá Palla Grande no Rio, o movimento Ortodoxo faz questão que seja em São Paulo. Breve, em breve eu serei livre.


16 de julho de 2011 - Acabei de descobrir que existe uma porra de uma Arconte da porra um Justicar na cidade. Uma Ventrue. Uma negociadora. Não sei a quanto tempo ela está aqui. Não sei o que está acontecendo. O Conselho está em silêncio. Os Autarcas se agitam. Os Independentes estão se espalhando. Os meus companheiros de Espada de Caim estão indo embora (ou talvez sumindo...). O cerco está se apertando. Preciso entender o que está acontecendo.

 

25 de Janeiro de 2012 - Essa Arconte já deu nos nervos! Parece que realmente ela está aqui há mais tempo do que eu imaginava. E aproveitou o baixo contingente Sabbat... Nos últimos anos ela refez a Cidade Livre, uniu todos os Cainitas com os Membros e Autarcas, desfez o Conselho da Rosa Sombria formando um Conselho Primogênito com outros Clãs, se auto declarou a nova Príncipe e agora quer que todos sejamos Camarilla. Desertar o Sabbat? Nunca. Impossível... Mas, talvez, seja minha única saída. Vou encontrar com ela em segredo e longe dos olhos dos poucos Sabbat que aqui ficaram. Veremos o que ela tem para me dizer...


30 de Abril de 2013 - Agora sou Marcos Silva, Algoz da Camarilla Carioca. O terror dos Deslaçados. O pesadelo dos Sangue-Fraco. O mais novo Ancila Antitribu da Torre de Marfim. Deixo de ser Baltazhar, O Paladino e agora sou um desertor da Espada de Caim. Aliás, da Mão Negra, como descobri que “nós” Membros da Família (Kindred pros globalizados) chamamos o meu Sabbat. O meu Sabbat. Agora não... Mais... Meu. Enquanto o Xerife Brujah vigia as ruas, becos e favelas da cidade, as entradas e saídas das estradas, do porto e aeroportos dela são o meu novo território de caça. Possuo Carniçais infiltrados em cada um desses lugares para me informar de qualquer quebra de Hospitalidade e Domínio da Práxis. Membro da Camarilla estrangeira que veio conhecer as maravilhas do Rio desavisadamente, sem indicação de um Ancião? Estacado e levado à Príncipe. Bando Nômade Sabbat de passagem? Monomancia para caírem fora. Sangue-fraco em busca de um lugar para se esconder? Banho de sol por 20 minutos. Bando Anarquista para aproveitar o sangue fácil dos cariocas? Amaranto sem misericórdia. Vampiro de sangue poderoso mas sem costas quentes para vagar pelo Domínio sem se apresentar? Amaranto. A carta branca da Príncipe garante que de forma nenhuma qualquer Arconte escondido ou Mão Negra Infiltrador venha acabar com nossa nova ordem. E o pulso forte do Xerife me facilita resolver os problemas externos pessoalmente. Já destruí mais Membros e já duelei mais Cainitas que em toda minha longa existência como Sabbat Verdadeiro. Nunca fui tão inumano, no entanto, nunca fui tão autônomo e poderoso. Livre, finalmente. Preciso me preparar. Sebastião pode acordar a qualquer momento. A Príncipe sabe, mas ela garante que tem uma cartada na manga e, conquanto aqui for um Principado, estarei seguro. Estaremos, nós, os Lasombra Antitribu. Ela também desconfia da história de Gratiano. Ele sabe demais… Ela sabe demais... Mas ela é minha Príncipe. E eu sou o mais temido dos Algozes de toda Torre de Marfim. Ave, Camarilla.

 
 
 

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