Luau da meia noite
- Robin Rowland

- há 2 dias
- 5 min de leitura
– O que eu faço, Sansão?!
Adão pergunta ansioso para um Sansão jogado no chão, com as mechas azuis espalhadas na grama, completamente desinteressado.
Já fazia uma hora desde que Adão havia chamado essa pequena reunião entre Sansão e Suzano, andava de um lado para o outro descartando as ideias oferecidas.
– Já listei todos os lugares que acho romântico, não pode só dar uma joia pra ela? – Comenta Suzano.
– Não tem joia que se equipara à beleza dela!
– Ela é uma Toreador rica, joias não são novidades para ela. – comenta Sansão, sem tirar os olhos de seu livro.
– Toreadores são artistas, não pode fazer alguma coisa pra ela?
– Não sou muito bom manualmente, e ela é uma artista fenomenal! Ela é inteligente, sensível, talentosa…
Suzano olha para Sansão, procurando um olhar sensato, porém o rapaz apenas deu de ombros.
– Ela gosta de você do jeito que você é, só continua fazendo o que está fazendo.
– Não, não, não! Eu preciso mostrar para ela que ela é incrível! Eu te disse, ela é uma artista, não basta ser um presente comprado ou fazer qualquer coisa. Quero que ela se sinta segura comigo, que confie em mim e que… bem, que goste de mim.
Sansão fecha o livro e se vira para Adão, que agora estava jogado no gramado perdido no céu estrelado.
– Parece que você tem mesmo um problema, eu já sei o que dar de presente de aniversário para Talita.
– É aniversário da Helena? – pergunta Suzano.
– Né nada, Adão só está entediado e apaixonado.
Adão se afundou ainda mais na grama alta, perdido sob a luz do luar e das estrelas. Não sabia por que havia chamado aqueles dois, talvez porque estivessem livres, talvez porque seriam uma dupla que não usaria de seu dilema como um artifício manipulativo.
Suzano tinha um baita dedo podre e era pouco criativo, pensava em presentes como recompensas por datas festivas, como uma obrigação de manutenção social. Sansão guardava com todas as chaves suas ideias e planos provocativos, além do mais, não era feitio dele constranger quem gosta para ter atenção.
Sentia no peito uma poesia que não conseguia expressar. Helena era uma vampira nova, não podia simplesmente oferecer tomos de rituais ou mordidas excêntricas. Ela também transbordava talentos que ele não tinha qualquer domínio.
E antes fosse apenas os talentos, ela era linda, o brilho da lua não se equiparava ao deslumbre do olhar. Não era atoa que era uma criatura noturna, o sol teria vergonha de brilhar sob a presença dela.
Suspirou.
Não queria admitir em voz alta, não para aqueles dois recalcados, mas não conseguia tirar Helena da cabeça. O vermelho das flores, o verde do gramado, a suavidade da brisa fria noturna. Sentia-se vivo de uma maneira que nenhuma festa no pentágono causava.
Queria saber pintar, mas nenhuma réplica poderia captar o sorriso dela, o movimento dela.
Sansão já havia deixado a clareira, Suzano estava ainda listando ideias fúteis. Não era à toa que ficava sozinho.
Um tanto constrangido, lembrou-se de algo que Daniella falava. Talvez não precisasse pensar tanto, só sentir. Não era um artesão habilidoso, mas não era isento de talentos. Tinha uma coisa que sabia fazer e que talvez, se tudo fosse cuidadosamente preparado, pudesse entreter Helena por uma noite.
A ansiedade o consumia.
Será que ela iria gostar?
***
Não basta ser tudo muito bom, precisa ser tudo perfeito.
Convidar Helena para um encontro não era a parte difícil, o desafio começou no instante em que ela aceitou.
Fazer da noite memorável, agradável, romântica… tinha bastante na cabeça de Adão quando o sol baixou. Mas foi Helena sair do carro, Trajando um vestido longo e justo que todas suas preocupações se esvaíram.
Seu coração apertava nervoso, mesmo não batendo como de costume como o dos mortais, suas emoções lembravam a ele que lá havia algo. Estendeu a mão para Helena e a guiou pelas escadas, conforme as pequenas velas tremeluziam.
Ela segurou seu braço e ele lembrou-se de respirar; não que precisasse para viver, mas precisava para manter a postura polida naquele momento.
Uma vez subindo as escadas, uma clareira se revelava como um pequeno jardim noturno. A grama estava perfeitamente cortada, as flores arranjadas e os vagalumes encantados. O gazebo de ferro estava enfeitado com luzes e trepadeiras, mas a surpresa não terminava nas decorações, havia também um trio de membros equipados com instrumentos.
Violino, violoncelo.
Adão, por fim, trajando um conjunto fino de colete, calça e camisa social, um trabalho de alfaiataria para complementar seu corpo. Ele não entendia muito sobre esse tipo de vestimenta elegante, mas achava que Helena pudesse apreciar os detalhes de um tecido mais refinado.
– O que é tudo isso, Adão? – Perguntou surpresa, o lugar era de muito bom gosto.
– Eu quero que tenhamos uma noite especial. – disse ele levando a mão até a cintura da companheira e se inclinando para um sutil beijo nos lábios carmesim.
Com seu sinal a pequena orquestra começou a tocar. Adão levantou a mão direita e tomou a de Helena, ela, apoiou a outra em seu ombro e permitiu ser conduzida.
Ela, estava encantada pela surpresa. O jardim era lindo, a música ao vivo agradável, Adão estava charmoso vestido como um príncipe – uma palavra que estava perdendo a magia com o uso, porém, ainda seria a melhor forma de descrever o vestuário do namorado.
Adão sabia mover o corpo de forma inesperada! Conduzia a valsa com confiança e elegância, e as luzes do luar refletiam em seu rosto de maneira romântica.
A brisa noturna fazia os cabelos de Helena se moverem e espelhava sob os dois seu perfume. Se Adão não soubesse cada passo da valsa como um instinto, teria se perdido no instante em que Helena sorriu.
Aquilo era muito mais do que música, dança e vagalumes. Para Adão era provar para Helena ( mesmo que esta jamais tivesse pedisse uma prova dessas) que poderia ser um homem para ela. Que estaria disposto a diverti-la todas as noites de sua eternidade. Inspira-la, além de protegê-la.
– Helena, eu quero que você entenda que tem de mim, meu absoluto tudo. Corpo e alma. Eu penso em você, eu quero estar com você, e eu espero que seja bom para você. Você é tão… incrível!
Adão tinha todo um discurso, palavras grandes e bonitas adotadas de poesia, no qual planejou a semana toda. Mas quando se viu encarando as esmeraldas do olhar de Helena, não consegui dizer mais nada que não fosse “incrível”.
Isso porque deslumbrante, esplêndido, belo, não traduzia com completado o que ele sentia quando estava com ela. Não havia uma palavra em seu vocabulário para descrever Helena, que não fosse, bem, seu nome: Helena.
Mas ele não precisava se torturar com a engasgada, pois Helena já o conhecia o suficiente para entender que o silêncio que antecedia o olhar fascinado do rapaz era uma das maneiras mais sinceras de declarar seu amor.
Aquela noite era perfeita.
Helena puxou Adão para um beijo, intenso e romântico. Retribuído por outro, mais outro e eventualmente, a valsa parava em beijos incansáveis de lábios sujos de batom vermelho.
– Eu amo você – sussurrou o rapaz entre os beijos.
– Eu também te amo.



Comentários